Assessoria -
Um grupo de pesquisadores paraibanos registrou pela primeira vez em âmbito científico um tubarão-martelo na costa da Paraíba. As imagens foram feitas no dia 21 de março deste ano pelo projeto Megafauna Marinha Ameaçada utilizando o sistema BRUVS, que usa uma câmera acoplada a uma caixa com iscas.
Segundo o biólogo Wilson Marques de Oliveira Júnior, que integra a equipe, havia relatos de aparições do animal em encalhes e pescas incidentais pelo estado, mas os cientistas nunca tinham registrado a espécie em vídeo. “O avistamento deste indivíduo saudável na nossa costa é muito relevante para a conservação da espécie, pois podemos delimitar o local onde ela vive e propor às autoridades áreas marinhas protegidas que envolvam sua ocorrência”, destacou Wilson. O pesquisador paraibano explicou ainda que a proteção dos tubarões é extremamente importante para o equilíbrio do ecossistema marinho, visto que eles atuam no controle dos níveis mais baixos da cadeia alimentar.
Ameaçado de extinção no mundo, o tubarão-martelo-panã foi avistado a 30 km da praia, numa profundidade de aproximadamente 50 metros. Wilson fez questão de ressaltar que não há motivo para preocupação por parte de quem frequenta a orla, já que, além de o registro ter acontecido em alto-mar, a costa paraibana não é uma área com sinais fortes de desequilíbrio ambiental. “Incidentes com tubarões são raríssimos no nosso estado. Os banhistas podem ficar tranquilos”, declarou.
O Megafauna Marinha Ameaçada, coordenado pelo professor Dr. Bráulio Almeida Santos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), teve início em 2019, com o intuito de aprofundar os estudos sobre a diversidade e a abundância de animais marinhos no estado.
“Ao combinar métodos tradicionais e inovadores, e fomentar a relação entre pescadores artesanais, cientistas, agentes públicos e empresários, esperamos unir o conhecimento tradicional ao científico e verticalizá-lo em prol da execução da agenda nacional e internacional de conservação marinha”, afirmou Bráulio. De acordo com ele, as ações do MegaFauna abordam desde aspectos básicos sobre a biologia e distribuição das espécies até questões de educação ambiental, engajamento com a sociedade, divulgação científica e gestão de unidades de conservação.
Financiado pela Fundação Grupo Boticário, o projeto conta ainda com o apoio do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), do Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação da UFPB, do Instituto Parahyba de Sustentabilidade (Ipas) e do Lixa Vivo. Com as descobertas e os registros, a equipe pretende ampliar a visibilidade e as parcerias.
“Esperamos que os setores público e privado compreendam definitivamente a importância da megafauna marinha para o desenvolvimento das atividades econômicas da região, especialmente do turismo e da pesca, que direta ou indiretamente dependem dos animais”, disse Santos. Ele frisou que a expectativa é que a compreensão seja traduzida em apoio formal a ações concretas em defesa das espécies. “Proteger a megafauna marinha tem sido uma prioridade global que ganhará ainda mais atenção nesta década (2021-2030), considerada a década dos oceanos pela ONU”, concluiu.
Lixa Vivo
Projeto colaborativo do Megafauna Marinha Ameaçada, o Lixa Vivo foca na observação de tubarões e é coordenado pelo professor aposentado da UFPB Dr. Ricardo Rosa. Os mergulhos do grupo e o uso de BRUVS costumam acontecer em áreas de naufrágios e recifes naturais da Paraíba. Quem quiser saber mais sobre as pesquisas e acompanhar as imagens captadas, pode acessar o perfil @projetolixavivo no Instagram.