G1 -

A
diferença é ainda mais relevante entre os jovens e adolescentes negros do sexo
masculino: a chance de suicídio é 50% maior neste grupo do que entre brancos na
mesma faixa etária.
Enquanto a taxa de mortalidade
por suicídio entre jovens e adolescentes brancos permaneceu estável de 2012 a
2016, o número aumentou 12% na população negra com a mesma idade. Analisando
esses dois grupos em 2016, nota-se que a cada 10 suicídios em adolescentes e
jovens aproximadamente seis ocorreram em negros e quatro em brancos.
Os dados são da cartilha Óbitos
por Suicídio entre Adolescentes e Jovens Negros, lançada pelo Ministério da
Saúde (MS) durante o Seminário Nacional de Saúde da População Negra na Atenção
Primária. Os números foram calculados a partir do Sistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM) do ministério.
Segundo a médica Rita Helena
Borret, organizadora do seminário realizado no sábado (18), o maior risco de
suicídio na população jovem negra está relacionado ao racismo estrutural, que
causa maior sofrimento e adoecimento entre os jovens e adolescentes do que
entre os adultos.
Adolescentes homens têm maior
risco
A taxa de mortalidade por
suicídio entre adolescentes e jovens negros apresentou um crescimento
significativo no período de 2012 a 2016. Em 2012, a taxa foi de 4,88 óbitos por
100 mil. O número aumentou 12% e chegou a 5,88 óbitos por 100 mil mo ano de
2016.
No mesmo período, a taxa de
mortalidade por suicídio entre os jovens e adolescentes brancos permaneceu
estável. Em 2012, a taxa nesse grupo foi de 3,65 óbitos por 100 mil. Em 2016,
essa taxa foi de 3,76 óbitos por 100 mil.
Em todos os anos analisados, o
número de suicídios foi maior entre adolescentes e jovens negros quando comparados
com os brancos.
Em 2012, a cada 100 suicídios
entre adolescentes e jovens brancos ocorreram 134 em adolescentes e jovens
negros. O maior risco foi observado em 2016: neste ano, a cada 100 suicídios em
adolescentes e jovens brancos, ocorreram 145 suicídios entre negros. Assim, o
risco de suicídio foi 45% maior na população jovem negra.
Na população negra de 10 a 29
anos do sexo masculino o risco foi ainda mais elevado: 50% maior que entre
homens da mesma idade brancos.
O grupo de maior vulnerabilidade
é composto por homens negros mais jovens, com idade entre 10 e 19 anos. O risco
de suicídio neste grupo foi 67% maior do que entre adolescentes brancos do sexo
masculino.
Construção de identidade na
juventude
Para entender porque o suicídio
atinge mais jovens negros do que jovens brancos é necessário analisar os
impactos do racismo na sociedade, segundo a médica Rita Borret, presidente da
Associação de Medicina de Família e Comunidade do Rio de Janeiro.
Organizadora do Seminário
Nacional de Saúde da População Negra na Atenção Primária, Borret explica que o
racismo causa impactos danosos que afetam significativamente os níveis
psicológicos e psicossociais de qualquer pessoa. No caso dos jovens e
adolescentes, os efeitos são ainda mais graves.
“O jovem negro, quando está na
fase de construir sua própria identidade, a constrói a partir do entendimento
de que ser negro é ser inferior, ser feio, ser menos valorizado”, explica.
“Essa percepção de não pertencimento faz com que esse jovem tenha um sofrimento
e um adoecimento muito maior e pode, em muitos casos, levar ao suicídio negro.”
A cartilha do Ministério da Saúde
reconhece o racismo como um dos fatores de risco para suicídio. Rejeição,
discriminação e racismo são fatores determinantes de risco para o suicídio, segundo
o ministério.
“Um dos grupos vulneráveis mais
afetados pelo suicídio são os jovens e sobretudo os jovens negros, devido
principalmente ao preconceito, à discriminação racial e ao racismo
institucional”, aponta a cartilha.
Segundo o documento, o estigma em
torno do suicídio pode ser ainda maior quando há questões raciais envolvidas.
“Muitas vezes as queixas raciais
podem ser subestimadas ou individualizadas, tratadas como algo pontual, de
pouca importância, o que acaba culpabilizando aquele que sofre o preconceito”,
atesta o relatório.
Para Borret, os dados da cartilha
recém-lançada comprovam que o racismo e a desigualdade racial afetam a
ocorrência de problemas de saúde e potencializam seus fatores de risco.
“Viver em uma sociedade que trata
diferente pessoas negras e brancas é adoecedor, gera um sofrimento e uma
sensação de preterimento”, explica a médica. “Por isso são necessárias
políticas públicas focadas na saúde da população negra.”
Racismo nos serviços de saúde
Criada em 2009, a Política
Nacional de Saúde da População Negra (PNSIPN) visa garantir a equidade e a
efetivação do direito à saúde de negras e negros. Apesar de ter sido criada há
mais de 10 anos, a política ainda é pouco aplicada no Sistema Único de Saúde
(SUS).
“Os gestores muitas vezes
acreditam que não existe racismo no Brasil e por isso não há necessidade de
aplicar as políticas nacionais para combater esse problema”, afirma a médica
Rita Borret.
Um levantamento de pesquisadores
da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e da USP mostrou que, em um
universo de mais de 5 mil municípios brasileiro, somente 57 colocaram em
prática a PNSIPN. Segundo a pesquisa, o estado de São Paulo é onde mais cidades
aderiram à estratégia, com 27 municípios participantes. Empatados em segundo
lugar estão Minas Gerais e Paraná, com apenas 4 municípios cada.
“As instituições de saúde
brasileiras também são instituições racistas, tanto pelo silenciamento das
situações de racismo que ocorrem dentro delas como pela reprodução do racismo
estrutural que existe na nossa sociedade”, diz a médica Rita Borret.
Apenas 17,6% dos médicos
brasileiros são negros, segundo pesquisa de 2014 da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). A população negra, que inclui pessoas pretas e pardas,
corresponde a 50,7% dos brasileiros, conforme o Censo 2010 do IBGE.
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