
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma declaração do deputado
federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável Jair Bolsonaro
(PSL), sobre fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) foi repudiada no meio
jurídico e político neste domingo (21).
Em vídeo gravado em julho, disponível na internet, mas que
veio à tona a uma semana do segundo turno, Eduardo responde a pergunta sobre
uma hipotética possibilidade de ação do Exército em caso de o STF impedir que
Bolsonaro assuma a Presidência.
"Aí já está caminhando para um estado de exceção. O STF
vai ter que pagar para ver e aí vai ser ele contra nós. Se o STF quiser arguir
qualquer coisa, sei lá, recebeu uma doação ilegal de R$ 100 do José da Silva,
pô, impugna a candidatura dele. Não acho improvável, não, mas aí vai ter que
pagar para ver. Será que vão ter essa força mesmo?", responde o filho do
candidato.
"Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz?
Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer
o soldado e o cabo, não", diz.
"O que é o STF? Tira o poder da caneta de um ministro
do STF. Se prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação
popular a favor do ministro do STF, milhões na rua?", afirma.
O vídeo foi gravado no dia 9 de julho, em um cursinho de
Cascavel, no Paraná. Eduardo Bolsonaro dava uma palestra para matriculados que
desejam ingressar na Polícia Federal. O vídeo da palestra foi compartilhado no
canal do cursinho e teve mais de 110 mil visualizações, até o fechamento desta
edição.
Em resposta ao posicionamento do deputado federal, a
presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Rosa Weber, disse que a
magistratura se mantinha firme.
"No Brasil, as instituições estão funcionando
normalmente. E juiz algum no país, juízes todos no Brasil [que] honram a toga,
se deixa abalar por qualquer manifestação que eventualmente possa ser
compreendida como conteúdo inadequado", afirmou a ministra, em entrevista.
O ministro do Supremo Marco Aurélio Mello disse considerar
que vivemos "tempos sombrios". "Vamos aguardar, com toda a
serenidade, os acontecimentos", afirmou, sem tecer mais comentários.
A reportagem conversou com outros ministros, que em caráter
reservado afirmaram esperar uma manifestação do presidente da corte, Dias
Toffoli, ou do decano, Celso de Mello. O presidente do STF estava neste domingo
regressando de viagem ao exterior.
Procurado, o vice-procurador-geral eleitoral, Humberto
Medeiros, não comentou.
Jair Bolsonaro negou que exista a possibilidade de o STF ser
fechado, disse desconhecer o vídeo e duvidar de que seu filho tenha feito a
afirmação. "Alguém tirou do contexto", afirmou, no domingo, a
jornalistas. "Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um
psiquiatra", disse.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou o
filho do candidato.
"As declarações do deputado Eduardo Bolsonaro merecem
repúdio dos democratas. Prega a ação direta, ameaça o STF", afirmou, nas
redes sociais. "Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas
cruzaram a linha, cheiram a fascismo. Têm meu repúdio, como quaisquer outras,
de qualquer partido, contra leis, a Constituição."
Adversário na disputa presidencial, Fernando Haddad (PT)
disse que a fala é uma ameaça ao STF. "Há muito medo de violência por
parte de Bolsonaro. Um filho dele chegou a gravar, de um pensamento, se é que
se pode chamar de pensamento o que eles falam, é uma coisa tão impressionante
que não sei se pensam para falar", afirmou o petista.
Em discurso durante uma caminhada nas ruas do centro de São
Luís, Haddad disse que a família adversária atua como uma milícia.
"O Bolsonaro é um chefe de milícia e os filhos dele são
milicianos, são capangas. Não se controla esse tipo de violência. O medo de
quem tem juízo só cresce, só quem está anestesiado não tem medo."
Diante da repercussão, Eduardo Bolsonaro afirmou, nas redes
sociais, que o vídeo "não era motivo para alarde".
"Até porque eu mesmo o publiquei em minhas redes sociais
há quase quatro meses. Trata-se de mais uma forçação de barra para atingir Jair
Bolsonaro, assim como é essa balela de WhatsApp fake news ser o fator que está
conduzindo Jair Bolsonaro possivelmente para a Presidência", continuou.
Na semana passada, a Folha de S.Paulo revelou que empresas
compraram pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp e
preparavam uma operação para esta semana.
A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por
empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada.
Eduardo Bolsonaro afirmou que "o momento é de acalmar
os ânimos, que muitas das vezes é inflado propositalmente para se criar uma
atmosfera de instabilidade".
"Se alguém defender que o STF precisa ser fechado, de
fato essa pessoa precisa de um psiquiatra. Eu jamais falei isso. Estamos à
beira de uma eleição que, após ser feita, sacramentará um governo legítimo,
eleito pela maioria dos eleitores, que terá tudo para unir todos os brasileiros
e seguir a Constituição, atitude que não é defendida pelo PT."
Em nota, o PSOL repudiou "veementemente a manifestação
do deputado e sua disposição de coagir o STF. É hora de o Judiciário enfrentar
a ameaça neofascista representada pelo candidato do PSL. Tomaremos as medidas
possíveis. É hora de dar um basta e salvar a democracia".
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