Agência Brasil -
Desde o período pré-eleitoral, sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) na disputa, o mestre em saltos da brigada paraquedista do Exército, Jair
Messias Bolsonaro, candidato da coligação PSL-PRTB, liderou todas as
pesquisas de intenções de voto para a Presidência da República. E venceu o
primeiro turno, e conquistou a presidência no segundo turno com mais de 55% dos
votos válidos.
Com apoio até de defensores da monarquia, o capitão da
reserva, nascido em Campinas (SP) há 63 anos, fez uma campanha popular,
que reuniu grandes grupos de simpatizantes nas ruas, mas também foi alvo de
muitas críticas e contraofensivas.
Ocupando o espaço de principal rival do PT, Bolsonaro
firmou-se como defensor de propostas que se enquadram no arco da
extrema-direita e nunca se intimidou com os limites impostos
pelo politicamente correto. Sua trajetória parlamentar é marcada pela virulência
de seus discursos – que ele considera como livre opinião, protegida pela
imunidade parlamentar.
Fez, por exemplo, declarações consideradas
ofensivas e discriminatórias contra negros e quilombolas. Em 11 de
setembro, o STF julgou Bolsonaro por acusação de racismo – inocentando-o
por um placar de 3 a 2 na Primeira Turma. Publicamente, se opôs às ações
afirmativas, como a adoção de cotas étnicas para o ensino superior.
Demonstrou também ser contrário às leis de proteção ao
público LGBT. Como deputado, combateu sem trégua, em 2011, quando Fernando
Haddad (PT) era ministro da Educação, o que chamou de “kit gay” – um
material didático contra homofobia que seria distribuído pelo governo para as
escolas públicas.
Bolsonaro sempre se insurgiu ainda contra a proteção
que os direitos humanos conferem aos que estão sob custódia do Estado. Já disse
ser a favor da pena de morte e contra o Estatuto do Desarmamento. Condena a
descriminalização das drogas e quer que o cidadão comum possa se armar, em
legítima defesa, contra ação de bandidos. Esse foi o seu principal recado aos
eleitores na área de segurança.
Durante a campanha, seu discurso foi se tornando mais
moderado. Teve inclusive que enviar carta ao STF para prestigiar a Corte
depois que seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SL), apareceu
em vídeo dizendo que “bastava um cabo e soldado para fechar o STF”. Jair
Bolsonaro condenou a violência entre eleitores e conclamou os brasileiros à
pacificação.
Mulheres
Com o sucesso de suas propostas e de sua pregação, Bolsonaro
virou um fenômeno de massa, mas encontrou resistência, segundo
demonstraram as pesquisas de opinião, no eleitorado feminino. Ele afirmou
considerar questão de mercado a diferença salarial entre homens e mulheres –
posição da qual mais tarde recuou.
O candidato já foi condenado no Superior Tribunal de Justiça
(STJ) por apologia ao estupro. Em 2014, da tribuna da Câmara, ele disse à
colega deputada Maria do Rosário (PT-RS) que ela não merecia ser estuprada. Ele
recorreu e o caso aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Por
causa dessa decisão do STJ, ele se elege como o primeiro presidente que é réu
na Justiça.
Memória
Um fato rumoroso marca o início da vida pública de
Bolsonaro. Em 1987, reportagem publicada pela revista Veja informou
que havia um plano denominado “Beco Sem Saída” para explodir bombas em
banheiros da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende
(RJ), quartéis e locais estratégicos do Rio. O objetivo seria protestar contra
os baixos salários. O então capitão publicara um artigo em que reivindicava a
melhoria dos soldos – o que lhe rendeu, posteriormente, punição
disciplinar.
Na ocasião, Bolsonaro foi identificado como fonte da
reportagem, que exibia croquis feitos a mão supostamente pelo próprio
militar. Ele negou as acusações, recorreu ao Superior Tribunal Militar
(STM) e foi absolvido. Em 1988, foi para reserva. Já conhecido e
identificado inicialmente como porta-voz de reivindicações
militares, iniciou então a carreira política no Rio de Janeiro.
Com a pauta ampliada para segurança e temas “contra a
ideologia esquerdista”, foi eleito sete vezes deputado federal,
permanecendo quase três décadas no Congresso Nacional, período em que
apresentou mais de 170 projetos, mas teve apenas dois aprovados. Foi o mais
votado no Rio para a Câmara em 2014, obtendo 464 mil votos.
Corrida Presidencial
Na corrida ao Palácio do Planalto, o candidato teve
dificuldade para ampliar alianças e negociar um nome para vice-presidente –
cargo entregue ao polêmico general Mourão (PRTB), que trouxe consigo o apoio de
alas da elite das Forças Armadas. Bolsonaro já negou várias vezes que
tenha existido golpe militar e tortura política no Brasil.
Desde o início, ele apresentou o banqueiro Paulo Guedes como
o fiador de seu programa econômico. Com o aumento de sua popularidade e a
entrada de Guedes na campanha, cresceu também o apoio de setores empresariais e
financeiros ao PSL. Fiel ao discurso anticorrupção, diz que vai
combatê-la acabando com ministérios e estatais.
Casado três vezes, tem cinco filhos, dos quais três estão na
vida política – Carlos é vereador no Rio, Flávio é deputado estadual no
Rio e Eduardo é deputado federal por São Paulo. O PSL é o seu nono
partido. À Justiça Eleitoral, declarou patrimônio de R$ 2,3 milhões.
Atentado
Com apenas oito segundos de propaganda eleitoral, o
candidato e seus filhos, que costumam criticar a imprensa, usaram as redes
sociais intensamente e terminaram acusados pelos adversários de liderarem a
produção de fake news nessas eleições.
Denúncia sobre o uso impulsionado de mensagens em
aplicativos, supostamente pago por empresários pró-Bolsonaro, está sendo
investigada pela Justiça Eleitoral. Pelas redes, detalharam até o estado
de saúde de Bolsonaro quando esteve hospitalizado durante o primeiro turno,
alvo de atentado a faca – algo que nunca aconteceu a presidenciáveis em
campanha, após a redemocratização no Brasil.
Ferido em 6 de setembro quando participava de ato
público em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro passou 22 dias internado,
recuperando-se de uma hemorragia e de duas cirurgias no intestino. Ele foi
atacado pelo desempregado Adélio Bispo – que hoje é réu por “atentado
pessoal por inconformismo político”.
Nos últimos dias de campanha, Bolsonaro, que votou com
colete à prova de bala e forte esquema de segurança, voltou a dizer que
não acredita que Adélio agiu sozinho.
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