G1 -

Juju Salimeni, 31 anos, vai encarar uma dobradinha na
ponte-aérea São Paulo-Rio no carnaval 2018. Ela estreia como rainha de bateria
da X-9 aulistana no sábado (10) e na segunda (12) cruza a Marquês de Sapucaí
pela Unidos da Tijuca. A preparação para encarar a maratona – e não mostrar
celulite na avenida – não preocupa Juju agora, na reta final. Juju substitui
Gracyanne Barbosa, que saiu da X-9 depois de viajar para o exterior e não
participar do desfile
que garantiu o acesso da escola ao Grupo Especial.
"Eu vivo para isso. A minha vida é para dieta e treino.
É meu estilo de vida. Não terei celulite no dia do desfile, assim como não
tenho no dia a dia. Me orgulho disso e não vejo nenhum mal em dizer porque eu
treino e faço dieta para isso. Sou feliz dessa forma", diz ela.
Este ano, a X-9
levará para a avenida um enredo que faz um "mix" de ditados populares.
1) Está feliz de volta ao carnaval de São Paulo? Qual é a
diferença em relação ao carnaval do Rio?
Sim, estou muito feliz. Fiquei praticamente três anos fora
do carnaval de São Paulo. Mas foi por uma escolha minha, que tinha sonho de
conhecer o carnaval do Rio. Tem uma diferença entre São Paulo e Rio, sim. Mas
não é uma diferença em relação à comunidade e à dedicação dos membros da
escola, isso é o mesmo. A diferença é cultural. No Rio tem muito mais a cultura
do carnaval. As pessoas se preocupam em ter uma escola de samba do coração,
está na cultura do carioca. Aqui, em São Paulo, não faz parte do dia a dia da
população como faz no Rio de Janeiro.
2) Desde quando você participa do carnaval? Como começou sua
relação com a X-9?
Desfilo há oito anos. Minha relação com a X-9 começou com um
convite do Fábio, o mestre de bateria. Eles estavam sem rainha de bateria. Para
mim, é muito legal, porque a X-9 é da Zona Norte, onde nasci e cresci, então me
sinto em casa. Estou há três anos fora do carnaval de São Paulo, então vai ser
uma novidade para mim. E aqui o público me conhece mais. Por ser São Paulo, a
minha cidade, vou sentir uma emoção maior. Vai ter um gostinho a mais.
3) Como é a preparação para ter fôlego para cruzar a
avenida? Qual é a pior coisa que pode acontecer na avenida?
Eu não faço nada especial porque já treino muito e tenho
minha dieta o ano todo. Dei uma aumentada nos exercícios aeróbios e estou
superpreparada, não fico cansada, fico uma hora sambando tranquilamente. A pior
coisa que pode acontecer na avenida é a chuva, porque estraga tudo, os carros,
as fantasias... Tem de desfilar com cuidado porque o chão escorrega
absurdamente. Tivemos um ensaio técnico na chuva e foi bem complicado. Eu
escolhi ir bem devagar e não sambar demais para não me arriscar a tomar um tombo
às vésperas do carnaval. Preferi ir bem tranquila e deixei para fazer toda a
festa no dia do desfile.
4) É o sonho de toda mulher ser rainha de bateria?
Acredito que não de todas, mas da mulher que ama o samba e o
carnaval, é um sonho sim. Não só por estar sob os holofotes e em evidência, mas
por estar ali representando com muito amor a escola, a comunidade. Para mim é
um sonho realizado por todos esses anos que tenho trilhado a minha história no
carnaval. Mas ainda me considero aprendiz. Me dedico muito e tenho a percepção
de que tenho de estar sempre treinando e me aperfeiçoando. E consegui bem antes
do que eu esperava. É um cargo de muita responsabilidade, dá muito trabalho e
não é só glamour como as pessoas pensam. Mas é recompensador. Estar na bateria,
no coração da escola, é uma sensação totalmente diferente, vale muito a pena.
5) Onde você aprendeu a sambar?
Eu ainda estou aprendendo (risos). Tenho aulas com a Mayara
Santos. Ela é a única que conseguiu melhorar a minha desenvoltura. Samba é como
um treino qualquer, precisa de muito treino e paciência. Infelizmente não tenho
tempo para treinar como eu gostaria, mas acredito que com o tempo isso vai vir
naturalmente. Mas onde cheguei até agora já é um grande passo. Eu tinha um
quadril muito duro, agora já está bem mais solto.
6) A X-9 vai falar sobre ditados populares no carnaval 2018.
Qual é o seu ditado popular preferido?
“Em boca fechada não entra mosca”. Se as pessoas aprendessem
a não falar da vida dos outros, a não falar do que não sabe, né? Aliás, nem
falar do que sabe, né? Em nenhuma ocasião. Eu odeio essas coisas.
Principalmente quando a pessoa não sabe o que está acontecendo, não sabe a
verdade sobre o assunto e se coloca a falar. Eu acho que quanto menos a gente
se preocupar com a vida alheia e se preocupar com a própria vida e crescimento,
tudo seria muito melhor.
7) Você sofre preconceito por participar do carnaval?
Não, não vejo nenhum preconceito de carnaval, não como
mulher. Eu vejo preconceito com pessoas que não são do samba. Foi o meu caso há
oito anos quando eu entrei para o meio do carnaval e não tinha nenhuma noção de
nada. Aí senti um preconceito. Eu era nova ali, ninguém me conhecia. E sei que
muita gente entra nesse meio justamente para aparecer, então as pessoas do meio
se sentem mal por isso. Até você conquistar seu espaço e a simpatia das pessoas
demora um pouco. Então no começo eu senti um pouco por não fazer parte do mundo
do samba.
8) No último ano milhares de mulheres romperam o silêncio e
denunciaram assédios que sofreram nas suas vidas e no trabalho. O que você
achou deste movimento? Acha que mudou alguma coisa na relação entre os homens e
as mulheres (em geral) e entre homens e musas de escolas de samba?
Eu acho que já estava mais do que na hora. Eu sou uma mulher
muito para frente em relação a isso há muito tempo. Nunca fui uma mulher
submissa, nunca me vi nesse patamar de submissão de aceitar as coisas. Minha
mãe me criou para ser independente, não depender de homem, não aceitar receber
ordens de homem, não aceitar que a pessoa resolva a sua vida. Não houve uma
mudança no meu pensamento, eu fui criada assim, sou assim. Sem medo de homem,
sem medo de dar opinião e me sobrepor. O que está acontecendo já deveria ter
acontecido há muito tempo. A mulher nunca deveria ter tido medo e se escondido,
se colocado para baixo. A gente tem de entender que nem todas as mulheres têm
essa mente e foram criadas dessa forma.
Eu acho que o que está acontecendo é muito bom porque agora
as mulheres que se sentiam mais fracas podem ter voz ativa, podem se colocar
acima e não mais se sentir por baixo. Vejo isso de forma positiva, acho
maravilhoso. Já estava na hora de acontecer isso. Se já mudou alguma coisa, eu
não vejo porque nunca senti dessa forma. Os homens sempre foram muito
cautelosos comigo, eu não sei se sentem um pouco de medo. Eu acho ótimo. Eu
sempre soube me impor, sempre coloquei limites, nunca dei liberdade. Então não
vejo diferença. Vejo diferença na sociedade com toda essa movimentação.
9) A Anitta,
no clipe 'Vai Malandra', deixou aparecer as celulites e os fãs a apoiaram na
atitude. O que você faz para evitar a celulite na avenida?
Não são todas as mulheres que podem se dedicar ao corpo e à
dieta como a gente faz. Infelizmente, muitas mulheres se sentem mal por isso. E
o fato de uma mulher de tanta fama e relevância mostrar que isso é uma coisa
comum entre todas a mulheres, é maravilhoso. A gente tem de estar feliz da
forma que quiser. Se tem celulite e está feliz, maravilhoso. Se a mulher tem
celulite e não está feliz, pode ir atrás disso para resolver. Cada uma está no
seu direito de escolher o corpo que quer. Isso eu sempre quis que mudasse. Essa
questão da moda que só pode ser vestida por mulher bem magra porque a mulher
com corpão é vulgar. Mas a mulher com corpão não fez nada para ser vulgar. Só
por ter seio e bumbum grandes? É um absurdo! A mulher para estar elegante tem
de ser uma tábua? Não existe isso, não pode mais ser dessa forma.
Em relação ao que eu faço para evitar celulite, eu vivo para
isso. A minha vida é para dieta e treino. É meu estilo de vida. Não terei
celulite no dia do desfile, assim como não tenho no dia a dia. Me orgulho disso
e não vejo nenhum mal em dizer porque eu treino e faço dieta para isso. Sou
feliz dessa forma.
10) Algumas escolas de carnaval estão inseridas em locais em
que a violência é cotidiana. Como é no caso da sua escola?
Sim, principalmente no Rio de Janeiro, onde as escolas estão
em locais considerados violentos. Mas dentro da quadra todos são muito
respeitados, você não vê violência e nem briga. Um dos lugares mais seguros, se
não for o lugar onde me sinto mais segura, é dentro da quadra de escola de
samba. Nunca me senti ameaçada, ando tranquilamente. E isso acontece em todas
as quadras, já fui de torcida organizada quando era da Mancha Verde e nunca vi
nenhum tipo de violência, sempre houve muito respeito. Isso ajuda com certeza a
união da escola com a comunidade. É muito amor, respeito e disciplina.
Leia mais notícias em diariodocurimatau.com, siga
nossas páginas no Facebook, no Twitter, Instagram e veja
nossos vídeos no Youtube.
Você também pode enviar informações à Redação do Jornal Diário do Curimataú
pelo Whatsapp (83) 9 8820-0713.