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Polícia faz revista em presos no RN (Foto: Adriano Abreu/Tribuna do Norte) |
Vinte e seis presos morreram na rebelião da Penitenciária de
Alcaçuz que já é a mais violenta da história do Rio Grande do Norte. Quase
todos foram decapitados. O motim começou na tarde de sábado (14) e terminou 14h
depois já na manhã deste domingo (15).
Mais cedo, havia sido divulgado que 27 presos morreram, mas,
segundo o governo do estado, um deles foi computado duas vezes por que alguns
corpos foram esquartejados e dois foram carbonizados.
O secretário de Segurança Pública, Caio Bezerra, disse, em
coletiva na noite de domingo, que haverá reforço nas guaritas e nos arredores
do presídio durante a noite para evitar fugas, e que na segunda-feira será
realizada uma nova revista na unidade para buscar armas brancas ou de fogo.
Neste domingo foram encontradas armas de fogo artesanais, segundo ele.
O secretário de Justiça, Wallber Virgolino, disse que os
líderes identificados estão isolados dentro da unidade prisional e que ele
espera que na segunda seja feita a transferência de presos para outras unidades
no próprio estado. O objetivo é separar duas facções: Sindicato do Crime e PCC.
Ele classificou o local como "cenário de barbárie".
Ele respondeu ainda sobre boatos de que haveria mais corpos
em fossas do presídio, e disse que na segunda-feira haverá uma nova busca.
Virgolino afirmou não descartar a possibilidade, mas disse que não acredita que
ela se confirme.
Os corpos foram levados para o Instituto de
Técnico-Científico de Polícia (Itep) para que seja feita a identificação, mas,
por questões de segurança, seguiram de lá até o quartel da PM. Um caminhão
frigorífico foi alugado para armazenar os corpos enquanto não acontece a
liberação para os sepultamentos. Além disso, legistas do Ceará e da Paraíba
foram deslocados para ajudar no trabalho de identificação. Alguns presos, além
de decapitados, também foram esquartejados.
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Corpos foram levados para o Instituto de Técnico-Científico de Polícia (Itep) (Foto: Emmily Virgílio/Inter TV) |
A identificação dos corpos deve acontecer a partir da manhã
de segunda-feira. Nenhum dos mortos foi identificado por enquanto.
Nove presos que estavam com ferimentos graves foram
transferidos para o Pronto-socorro Clóvis Sarinho, em Natal. De acordo com a
direção do hospital, nenhum deles corre risco de morte, mas não há previsão de
alta.
Em entrevista coletiva realizada na manhã deste domingo, o
Governo do Estado informou que identificou pelo menos seis líderes da rebelião. De
acordo com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), o governo vai pedir a
transferências dos líderes para presídios federais. Outros detentos podem ser
transferidos ainda neste domingo para outras unidades prisionais do estado.
O titular da Sejuc, Wallber Virgolino, confirmou que os
presos do pavilhão 5 invadiram o pavilhão 4. Segundo ele, um trabalho de
contenção realizado por agentes penitenciários com o uso de bombas de efeito
moral evitou a entrada dos rebelados no pavilhão 1. "Em termos de número
de mortes essa é a maior rebelião da história do Rio Grande do Norte",
disse.
Ainda de acordo com o secretário, a rebelião no Rio Grande
do Norte não tem relação confirmada com os motins no Amazonas e em Roraima.
"Não há confirmação de relação, mas com certeza as rebeliões naqueles
presídios incentivaram o que aconteceu aqui", disse Virgolino.
Três equipes de delegados da Divisão de Homicídios e
Proteção à Pessoa (DHPP) e 15 homens estão responsáveis pela perícia dos locais
de crime.
A Penitenciária de Alcaçuz, segundo o governo, ficou
parcialmente destruída e não há previsão para reconstrução. Ainda na tarde de
sábado, um detento fugiu da penitenciária, mas foi recapturado em seguida.
Sobre a rebelião
A rebelião começou com uma briga entre presos dos pavilhões 4 e 5 por volta das
17h de sábado (14). De acordo com a presidente do Sindicato dos Agentes
Penitenciários, Vilma Batista, homens em um carro se aproximaram do presídio
antes da rebelião e jogaram armas por sobre o muro.
Segundo o governo, a briga estava restrita aos dois
pavilhões. O pavilhão 5 é o presídio Rogério Coutinho Madruga, que fica anexo a
Alcaçuz. Há separação entre presos de facções criminosas entre os dois
presídios.
De acordo com a Sejuc, os próprios presos desligaram a
energia do local e, com isso, os bloqueadores de celulares da unidade prisional
deixaram de funcionar. Durante a madrugada foram ouvidos tiros dentro da
unidade prisional e muita fumaça era vista no local.
Na manhã deste domingo, policiais militares entraram na
unidade prisional com veículo blindado, vans e carros para tentar acabar com
rebelião. A rebelião foi controlada por volta das 7h20 com a entrada do Bope e
do Choque, além do Grupo de Operações Especiais formado por agentes
penitenciários.
Alcaçuz fica em Nísia Floresta, cidade da Grande Natal,
e é o maior presídio do estado. A penitenciária possui capacidade para 620
detentos, mas abriga cerca de 1.150 presos, segundo a Sejuc, órgão responsável
pelo sistema prisional do RN.
Rebeliões e fugas
A última rebelião em Alcaçuz foi registrada em novembro de 2015.
Houve quebra-quebra após a descoberta de um túnel escavado a partir do pavilhão
2. “Assim que acabou a visita social, por volta das 15h, os presos se
amotinaram”, disse o secretário de Justiça da época, Cristiano Feitosa.
Mais de 100 presos conseguiram escapar do presídio no ano
passado, em 14 fugas. A maioria deixou o presídio por meio de túneis escavados
a partir dos pavilhões ou por buracos abertos no pé do muro, sempre sob uma
guarita desativada ou sem vigilância.
Força Nacional
Na segunda-feira (9), o Ministério da Justiça prorrogou por mais 60 dias a
presença da Força Nacional de Segurança no Rio Grande do Norte. Os policiais
enviados pelo governo federal estão atuando no patrulhamento das ruas e podem
atuar na segurança do perímetro externo das unidades prisionais localizadas na
Grande Natal.
A Força Nacional chegou ao estado em março de 2015, durante a
série de motins no sistema prisional do estado, e o prazo de apoio poderá
ser novamente prorrogado, caso haja necessidade.
Calamidade pública
O sistema penitenciário potiguar entrou em calamidade pública
no mesmo mês, em março de 2015. Na ocasião, foram gastos mais de R$ 7
milhões para recuperar 14 presídios depredados durante motins, mas as melhorias
foram novamente destruídas. Atualmente, em várias unidades as celas não possuem
grades e os presos circulam livremente dentro dos pavilhões.
Segundo a Secretaria de Justiça e da Cidadania (Sejuc),
órgão responsável pelo sistema prisional do estado, o Rio Grande do Norte possui
33 unidades prisionais, que oferecem 3,5 mil vagas, mas a população carcerária
é de 8 mil presos - ou seja, o déficit é de 4,5 mil vagas.
Acre e Amazonas
Na quinta-feira (12), presos apontados pelos setores de inteligência do Acre e do Amazonas como
líderes de facções criminosas chegaram à penitenciária federal de Mossoró,
na região oeste do Rio Grande do Norte.
Ao todo, foram 19 detentos que foram trazidos em uma operação especial para o
presídio potiguar - 14 do Acre e 5 do Amazonas.
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