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Cinco meses após ganhar um sistema de reuso de água, a
agricultora Josilma Alves, do Assentamento Dorcelina Folador, no município de
Cubati, no Seridó da Paraíba, a 200 km de João Pessoa, colhe os primeiros
frutos do quintal produtivo iniciado nos fundos da casa. O assentamento no qual
a produtora está instalada fica localizado em uma área onde chove pouco.
A variada produção de alimentos de Josilma, composta por
couve, fava manteiga, milho, manga, romã, goiaba, acerola, melão, limão, caju,
maracujá e melancia é irrigada duas vezes por dia através de gotejamento. Toda
a água utilizada vem do sistema Bioágua.
“Com a chegada do Bioágua, eu e minha família podemos
conservar as plantas ao redor de casa. Antes, nós tínhamos que regá-las com
água da cisterna e, muitas vezes, não dava, porque a água era para o uso da
casa. Agora, com o reaproveitamento da água, podemos aumentar nossa produção,
que pretendemos, futuramente, vender na feirinha para aumentar nossa renda
familiar”, afirmou a agricultora.
A integração entre o Bioágua e o quintal produtivo
transformou a casa da família de Josilma em uma Unidade Demonstrativa, que
servirá como local para intercâmbio e de troca de ideias entre técnicos e
assentados. A UD foi implantada pela Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio
às Organizações de Autopromoção (Coonap), entidade contratada pelo Incra para
prestar assistência técnica em 31 áreas de reforma agrária na região paraibana
da Borborema. A Coonap instalou outros nove Bioáguas nos assentamentos
assistidos pela entidade.
Durante o processo de implantação do Bioágua, os assentados
realizaram visitas de intercâmbios a comunidades onde os agricultores já
utilizavam a tecnologia. Eles também participaram de oficinas para aprender a
gerir e manusear o sistema e foram sensibilizados com relação à importância do
uso de minhocas e do pó de serra para a filtragem da água.
De acordo com a Coonap, o custo de implantação do sistema
que integra Bioágua e quintal produtivo varia conforme a área a ser irrigada.
Na UD da família de Josilma, com uma área de 2,5 mil metros quadrados – o
equivalente a 0,25 hectare – o investimento foi de R$ 3 mil.
O sistema Bioágua Familiar foi desenvolvido pelo Projeto Dom
Helder Câmara, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Territorial,
atualmente na Casa Civil, em colaboração com o Fundo Internacional para o
Desenvolvimento da Agricultura (Fida) e o Fundo Global para o Meio Ambiente, em
parceria com a ONG Atos – Assessoria, Consultoria e Capacitação Técnica
Orientada Sustentável.
Funcionamento do Bioágua
A água cinza proveniente do banheiro e das pias da casa é
canalizada até um filtro biológico caseiro com 1,5 metro de diâmetro, onde
passa por cinco camadas filtrantes de diferentes densidades e tamanhos de
partículas. A primeira é composta por 20 centímetros de seixos de pedra; a
segunda por 10 centímetros de pedra fragmentada em forma de brita; a terceira
por 10 centímetros de areia e 50 centímetros de pó de serra; e a quinta e
última camada por, aproximadamente, 10 centímetros de esterco caprino ou ovino
e 1 kg de minhocas, utilizadas para a decomposição das matérias orgânicas.
Após passar pelas camadas do filtro, a água segue para um
reservatório, de onde é bombeada para uma caixa d’água elevada com capacidade
para mil litros. Através de canos de PVC, a água segue para as plantas, que a
recebem através de um sistema de irrigação por gotejamento. O Bioágua tem
capacidade para filtrar até 400 litros de água cinza por dia e deve ser
protegido do sol e da chuva com uma cobertura. A cada seis meses, o pó de serra
e o esterco são retirados e empregados na adubação das plantas do quintal
produtivo.