Agência Estado -

"Hoje ficou caracterizado que os
motivos pelos quais eles me acusam não caracterizam crime. Nós viemos dizendo
isso há muito tempo, mas agora a própria perícia constatou isso", disse em
entrevista concedida à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul.
A perícia realizada pelo corpo técnico do Senado veio a público hoje com a
divulgação do laudo do trabalho. O documento responsabiliza a petista pela
liberação de créditos suplementares por meio de decreto, sem o aval do
Congresso, mas isenta Dilma da atuação nas pedaladas fiscais. Sobre os decretos
ela disse que não foi constatada nenhuma participação dolosa de sua parte.
"Não há, em nenhum momento, um alerta ou um parecer técnico que diga
'presidenta, se você assinar este decreto estará comprometendo a meta fiscal'.
Por isso fica cada vez mais claro que este processo de impeachment não tem base
legal, não tem fundamentação", afirmou.
Na entrevista, Dilma reafirmou que está trabalhando para reverter o processo de
afastamento no plenário do Senado, na votação que deve ocorrer em agosto.
"Não só tenho esperança como tenho sistematicamente feito tratativas nesta
direção, conversando com senadores e discutindo também com os movimentos
sociais", falou.
A presidente afastada também disse que, caso seja absolvida no processo de
impeachment, ela ainda não sabe se chamaria um plebiscito para a convocação
imediata de novas eleições presidenciais. "Ainda não há consenso entre as
diferentes forças que me apoiam", disse. Segundo ela, a certeza que se tem
no momento é que a volta "plena e irrestrita" de seu mandato é
condição essencial para a manutenção do processo democrático. "Caso
contrário estaremos sempre na ilegalidade, que é a ruptura democrática sem
causa. É como rasgar a Constituição."
Dilma comentou que não sabe se vai pessoalmente defender seu mandato na
Comissão Especial do Impeachment no Senado. Segundo ela, esta questão está
sendo avaliada. "Teria oportunidade de falar ao Senado em duas
circunstâncias: uma delas é na comissão, mas creio que seria mais solene falar
ao plenário, a todos os senadores", citou.
Ao longo da entrevista, que durou cerca de 40 minutos, a presidente afastada
voltou a denunciar "vazamentos seletivos da operação Lava Jato" com o
intuito de atingir seu governo. Ela ainda criticou medidas tomadas pelo
presidente em exercício, Michel Temer, como a extinção do Ministério da Igualdade
Racial e dos Direitos Humanos e o não pagamento do reajuste do Bolsa Família.
Solidez
Sobre a situação econômica, Dilma comentou que a trajetória de desaceleração da
inflação e a "robustez econômica" recentemente exaltada pelo
Ministério da Fazenda são mérito da gestão do PT. "Se a inflação hoje se
projeta para a meta, deve-se ao que nós fizemos", disse.
Ela citou o fato de o Ministério da Fazenda ter dito, na semana passada, por
meio de nota, que o Brasil tem uma situação econômica sólida e segura, com
fundamentos robustos, e que, portanto, está preparado para atravessar com
segurança períodos de instabilidade externa, referindo-se às possíveis
consequências da decisão dos britânicos de deixar a União Europeia. "Quem
é que construiu esta robustez? O governo provisório, interino e ilegítimo nos
último mês e meio ou nós nos últimos anos? Nós nos últimos anos",
ressaltou a presidente afastada.
Na entrevista, Dilma afirmou também que o Brasil teria saído "mais
facilmente" da crise econômica que atravessa se, em 2015, os opositores ao
seu governo "não tivessem criado junto uma crise política". Ela
lembrou a atuação do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ). "Ele não só barrava a reforma fiscal como fazia com que
tivéssemos obrigações, as chamadas pautas-bomba", falou. "Criaram
empecilhos para uma reforma que, naquele momento, em 2015, teria sido mais
suave."
Sobre o sistema político brasileiro, Dilma opinou que é impossível governar um
país com a quantidade de partidos que existe hoje no Brasil - que, segunda ela,
leva a uma inevitável fragmentação. "No período FHC, se fazia maioria
simples com três partidos. No governo do presidente Lula, eram necessários oito
partidos. No meu governo, 14 faziam maioria simples", falou.
Dilma ainda admitiu que pode ter cometido erros no diálogo com o Congresso. Ela
ponderou que fez o possível para tratar com os parlamentares temas de interesse
nacional, mas que não se arrepende de ter evitado "certo tipo de
conversa" com políticos. "Uma certa conversa que leva a negociações
que muitas vezes não são republicanas de fato eu não gosto. Podem me chamar de
dura ou do que for. Não faço esse tipo de conversa porque eu acho que não é
correto", destacou.
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