Abstenção nas eleições reflete descrença no voto - Jornal Diário do Curimataú
Abstenção nas eleições reflete descrença no voto

Abstenção nas eleições reflete descrença no voto

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Imagem ilustrativa
Cientista político afirma que aumento de faltosos mostra que população quer reforma
Passadas as eleições, entidades civis organizadas deram início às articulações políticas pela reforma política com a participação direta da população. As abstenções registradas nas urnas no primeiro e segundo turno, na Paraíba, entretanto, demonstram que o eleitorado do Estado ainda prefere se manter afastado da política. 
Apenas no primeiro turno das eleições 2014 não compareceram às urnas 500.406 eleitores da Paraíba, um total de 17,65% sobre o total de eleitores no Estado, que é de 2.834.880. No segundo turno, a abstenção foi ainda maior, chegando a 510.365 (18%) faltosos.
Os números foram bem superiores aos contabilizados pela Justiça Eleitoral da Paraíba nas eleições municipais, em 2012, quando no primeiro turno foi registrada uma abstenção de 457.493 (15,96%) eleitores. No segundo turno, em que só houve eleição nos municípios de João Pessoa e Campina Grande, a abstenção ficou em 16,64% (126.565).
Entretanto, os números de faltosos em 2014 são relativamente menores que os registrados nas eleições gerais de 2012, quando o sistema de estatísticas eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contabilizou ao final do pleito um total de 506.052 (18,48%) de abstenções no primeiro turno e 521.249 (19,03%) em abstenção no segundo turno.
Para o presidente do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB), desembargador Saulo Benevides, a pequena diferença de eleitorado apto entre os turnos, nas eleições de 2010, 2012 e 2014, deve-se ao voto em trânsito, cujo cadastramento dos interessados foi independente para cada turno.
Já o cientista político Ítalo Fittipaldi acredita que a crescente abstenção se deve à descrença da população com o poder do voto em mudar os rumos do país. “A gente vê, ao analisar os números, que tem um recado que vem sendo dado há algumas eleições. As abstenções têm ficado em torno de 17% a 22%, na média nacional e esses números também se constatam na Paraíba, não fogem disso”, comentou.
Fittipaldi disse que o número cada vez maior de faltosos também pode simbolizar que a população anseia por mudanças, através de uma reforma política profunda. “O número grande de abstenções reflete que uma parcela da sociedade não quer ter que votar e se abstendo de qualquer tipo de votação demonstra que não quer participar de qualquer tipo de votação. Claro que não no sentido de alienação política, mas no sentido de postura, de não estar satisfeito com a atual conjuntura. É uma forma de protestar, de dizer que não quer participar dessa decisão”, explica.
Para o cientista político, deve ser criada, a partir de encerrada esta eleição, uma agenda de debates para reforma política soberana e popular.
“Mas não acho que haverá uma reforma com grandes modificações. Essas reformas serão sempre pontuais, mas deverão entrar em pauta temas como o financiamento público de campanha, se o senador deve ter suplente, fidelidade partidária, lista aberta ou lista fechada e um dos itens que merece ser acrescentado é o voto obrigatório. Se vai acontecer ou não, só saberemos mais adiante”, argumenta.

Há mais faltosos entre 26 e 40 anos
No primeiro turno das eleições deste ano, 500.406 eleitores não foram às urnas. A maior abstenção foi entre o eleitorado na faixa etária entre 26 a 40 anos, no total de 149.515 eleitores (29,87%). Já na faixa etária anterior, dos eleitores com idades entre 18 e 25 anos, a abstenção caiu quase a metade, ficando em 91.247 no primeiro turno e 99.052, no segundo turno.
Entre o eleitorado facultativo jovem, a abstenção foi de 6.914, no primeiro turno, e de 6.660, no segundo turno. Já na outra ponta, que são os eleitores maiores de 70 anos, que também não têm obrigação de votar, o número chegou a 117.748, no primeiro turno e caiu para 112.454 no segundo turno.
Entre os eleitores com idades entre 41 e 60 anos, pelo menos 87.925 eleitores não compareceram às urnas. No segundo turno, o número aumentou apenas para 89.906. Já entre os eleitores de 61 a 70 anos, a abstenção caiu quase pela metade. Esta faixa etária também foi a única em que a abstenção reduziu do primeiro para o segundo turno, uma vez que na primeira votação 47.057 não foram às urnas e no segundo 43.930 não compareceram.
A popularização das redes sociais, para o cientista Ítalo Fitipaldi, ao contrário de contribuir para o debate, influencia negativamente para esses resultados. “As redes sociais servem para manifestar o que as pessoas têm de pior e elas foram utilizadas. É uma ferramenta importante, mas não vejo isso como participação e os números da abstenção, sobretudo, entre os maiores usuários demonstra isso”, comenta.

Identificação biométrica reduz índice
Nas eleições de 2014, dos mais de 850 mil eleitores de 19 municípios do Estado aptos a serem identificados, pela primeira vez em uma eleição geral, por meio da biometria, um total de 70.388 não compareceram às urnas no segundo turno. No primeiro, a abstenção subiu para 70.935 faltosos.
A queda nos números é ainda maior quando analisada individualmente por município. Pelo menos nos dois municípios com o maior número de eleitores, João Pessoa e Campina Grande, houve redução na abstenção no primeiro turno. Em João Pessoa, 38.679 não foram às urnas, e no segundo turno, caiu para 38.278. Já em Campina, foram 18.436 faltosos no primeiro turno e 18.114 no segundo.