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Um manto
têxtil pré-inca com 2.000 anos de antiguidade, que representaria um calendário
agrícola da cultura Paracas, está em exibição a partir desta sexta-feira (28) em
Lima, surpreendendo por sua simbologia e bom estado de conservação.
O chamado
Manto Calendário é considerado por especialistas como um dos têxteis
arqueológicos mais importantes do mundo por sua antiguidade, desenhos e técnica
de confecção, que permite ver figuras de animais em formato tridimensional. A
peça valiosa foi recuperada com outros têxteis que tinham sido vendidos do Peru
ilegalmente para a Suécia quase um século atrás e foi devolvida em junho
passado por um museu de Gotemburgo.
"É uma peça única no mundo. É a
estrela dos 89 mantos recuperados após permanecer ilegalmente mais de oito décadas
na Suécia", disse à AFP Carmen Thais, chefe da área de têxteis do museu.
"O manto teria sido tecido entre os anos 200 a.C a 200 d.c. Ele tem 32
quadros e em cada um deles, há uma figura que marca épocas estacionárias na
sociedade Paracas", comentou. Ela explicou que a técnica do tecido é
conhecida como "looping" (anelado), que possibilita a confecção de
estampas tridimensionais. Foi tecido em algodão e lã de camelídeos e tem 104 cm
de comprimento por 51 de largura. Nos diferentes quadros é possível ver nos
menores detalhes condores, gatos monteses, camarões, rãs, espigas de milho,
aves como o beija-flor e a perdiz, e homens trabalhando a terra. "Os
desenhos foram tecidos com agulha de cactus, com fios finos de camelídeos para
as cores nas quais predomina o vermelho". Para obter a coloração
"foram usadas plantas, minerais e, em outros casos, a própria cor da
alpaca ou da vicunha", explicou. Cada quadro foi feito em separado e em
seguida, unido à peça para formar um manto de grande beleza, cheio de iconografia,
disse Thais.
Paracas foi uma importante civilização do período denominado
'Formativo Superior ou Horizonte Precoce', que se desenvolveu na atual
província peruana de Pisco, região de Ica (sul). Os têxteis paracas eram
considerados os mais belos entre os produzidos na época pré-hispânica por sua
beleza artística e o simbolismo de suas imagens. Acredita-se que o Mando
Calendário fosse um "ñañaca", uma espécie de toca que teria feito
parte de um enxoval funerário de um alto hierarca. A elite Paracas usava
abundantemente em seu vestuário têxteis como mantos, ponchos curtos, turbantes
coloridos, tapa-sexos ou waras, camisas ou unkus e saias. Segundo acordo com as
autoridades suecas, a coleção de peças Paracas será devolvida ao Peru,
gradativamente, até o ano 2021.
O manto ficará em exibição duas semanas no
Museu de Arqueologia, Antropologia e História de Lima, antes de ser levado a um
recinto especial para sua conservação.