
Os exames citológicos tradicionalmente usados para detectar
a presença de células causadoras de câncer
cervical são caros e requerem equipamentos especializados. Por isso,
médicos indianos estão usando um método alternativo que tem por base um
material inusitado - ácido acético, ou vinagre comum.
O método - desenvolvido por cientistas da Universidade Johns
Hopkins e de outras instituições - está sendo usado em lugares como a aldeia de
Dervan, no estado de Maharashtra, onde os médicos improvisaram uma clínica
temporária em uma loja vazia.
Ele consiste em recolher, com a ajuda de uma espécie de
cotonete com vinagre, material do colo do útero das pacientes. Se o vinagre
fizer o material recolhido ficar branco ou amarelado, há indícios da presença
de células pré-cancerígenas.
Em países como os EUA, o
câncer cervical costumava matar
mais mulheres do que qualquer outro câncer
. Hoje, porém, praticamente não há mortes em muitos países desenvolvidos graças
ao exame conhecido como Papanicolau
- que permite a detecção precoce e tratamento da doença.
Na Índia, no entanto, dezenas de milhares de mulheres ainda
morrem todos os anos de câncer cervical. "Não é possível para nós oferecer
o exame (Papanicolau) de forma tão frequente como no Ocidente", diz
Surendra Shastri, do Tata Memorial Hospital em Mumbai.
A análise do Papanicolau requer um time de especialistas bem
treinados e um laboratório bem equipado, mas muitas regiões da Índia não têm
nem um, nem outro. "Então, o que podemos fazer?", Shastri questiona.
"Não podemos deixar que as mulheres morram."
Resistência
Os exames com vinagre são uma resposta relativamente simples
e barata a esse dilema. Eles estão sendo feitos como parte de um projeto do
Tata Memorial Hospital, de Mumbai, e do Hospital Walawalkar, de Dervan,
dirigido pela médica Suvarna Patil.
Patil diz que quando o teste "alternativo" foi
levado para as aldeias, onde passou a ser oferecido gratuitamente, as mulheres
indianas não pareciam estar interessadas. Muitas achavam o exame incômodo
e constrangedor, e um amplo trabalho de conscientização teve de ser
implementado para quebrar sua resistência.
Profissionais da área de saúde visitaram diversas casas com
seus computadores e apresentações de PowerPoint - em um país em que,
contraditoriamente, há ampla disseminação de alguns equipamentos tecnológicos,
mas a qualidade dos serviços básicos ainda é precária.
Cartazes foram espalhados em ruas e praças e encontros foram
realizados com líderes comunitários e estudantes.
Estratégias
Ainda assim, como contou Patil, as mulheres não pareciam
convencidas da importância do exame. Uma tripla estratégia ajudou a
arrefecer essa resistência.
Primeiro, uma equipe feminina de médicas e enfermeiras foi
destacada para fazer os exames. Segundo, essa equipe passou a oferecer não
apenas o teste para detectar o risco de câncer de colo do útero, mas também um
check-up total das pacientes, medindo sua pressão arterial, avaliando problemas
dentários e ajudando a detectar diabetes
e outras doenças que preocupam bastante as mulheres da região.
Para completar, os homens também passaram a ser recebidos
para um check up - e o apoio masculino foi um fator essencial para que as
mulheres comparecessem a esses postos de saúde improvisados.
Essas estratégias ajudaram a causar uma mudança de atitude,
que também foi impulsionada pela gradual disseminação de uma percepção positiva
sobre os resultados dos exames.
Segundo Patil, pouco a pouco, as indianas começaram a
perceber que ele realmente estava ajudando parentes e conhecidas a vencer o
câncer.
"Elas começaram a ver os resultados. Entenderam que se
o câncer é detectado em estado precoce o paciente se recupera bem", disse
a médica.
"Agora, as pessoas estão vindo até nós para pedir que
façamos o exame em grupos de mulheres de uma ou outra região."
* Programa coproduzido pela BBC e a rádio pública americana
PRI.
BBC Brasil