A estudante da Universidade de Oxford faz parte de 1% dos
britânicos que se identificam como assexuados. A assexualidade é descrita como
uma orientação, diferentemente do celibato, que é visto como uma escolha.
"As pessoas me perguntam: 'se você nunca experimentou, como você sabe?'
Bem, se você é heterossexual, você já experimentou ter relações com uma pessoa
do mesmo sexo? Como você sabe que não ia gostar então? Você simplesmente sabe
que você não tem interesse nisso, independentemente de ter experimentado ou
não", diz ela.
Na Grã-Bretanha, há um website dedicado à comunidade
assexuada, a Asexual Visibility and Education Network (Rede de Visibilidade e
Educação Assexual), que faz questão de frisar que a diversidade entre eles é
tão grande como entre a comunidade "sexual".
O sociólogo Mark Carrigan, da Universidade de Warwick,
explica que há, por exemplo, assexuados românticos e não românticos.
"Assexuados não românticos não tem nenhum tipo de relação romântica, então
em muitos casos eles não querem ser tocados, não querem nenhum tipo de
intimidade física", diz Carrigan. "Os assexuados românticos não
sentem desejo sexual, mas sentem atração romântica. Então, eles veem alguém e
não respondem sexualmente a essa pessoa, mas podem querer ficar mais próximos,
conhecê-la melhor, dividir coisas com ela."
Namorado: Este é o caso de Jenni, que é hetero-romântica e,
apesar de não ter nenhum interesse em sexo, ainda sente atração por pessoas do
sexo oposto e está em um relacionamento com Tim, de 22 anos.
Tim, no entanto, não é assexuado. "Muitas pessoas
chegam a perguntar se eu não estou sendo egoísta de mantê-lo em uma relação que
não vai satisfazê-lo e dizem que ele deveria namorar alguém como ele, mas ele
parece bem feliz, então eu diria que ele é quem deve decidir isso", diz
Jenni.
Segundo Tim, ele está gostando de passar tempo com Jenni e
de conhecê-la melhor concentrando as atenções no lado romântico do
relacionamento. "A primeira vez que Jenni mencionou durante uma conversa
que era assexuada, meu primeiro pensamento foi: 'hmmm, isso é um pouco
estranho', mas eu sabia que não deveria fazer suposições sobre o que isso
significava", explica Tim. "Eu nunca fui obcecado por sexo. Eu nunca
fui do tipo que tem que sair à noite e tem que achar alguém para ter uma
relação sexual, só porque é isso que as pessoas fazem... então, não estou tão
preocupado com isso."
Ainda assim, a relação de Jenni e Tim tem um lado físico, já
que eles se abraçam e se beijam para expressar seu afeto um pelo outro.
Estudos científicos: A assexualidade foi objeto de poucos
estudos científicos, segundo Carrigan, porque até 2001 não havia uma comunidade
assexuada e, portanto, um objeto a ser estudado. "Houve muitas pesquisas
sobre transtorno do desejo sexual hipoativo, que é classificado como um
transtorno de personalidade, e é quando você não sente atração sexual e sofre
por conta disso. Então, muitas pessoas que depois foram definidas como
assexuadas podem ter sido vistas anteriormente como alguém que sofria desse
transtorno", diz Carrigan.
A falta de pesquisas sobre o assunto dá margem a
especulações sobre por que algumas pessoas não sentem desejo sexual. "Há
pessoas que definitivamente veem isso como uma doença, que pode ser curada com
remédios, outras perguntam se já chequei meus níveis hormonais, como se essa
fosse uma solução óbvia", diz Jenni. "E há pessoas que vão ainda mais
longe. Já me perguntaram se fui molestada quando era criança, que não é uma
pergunta apropriada. E eu não fui."
Preconceito e marginalização: Apesar de assexuados às vezes
sofrerem discriminação, Carrigan diz que o preconceito é diferente da
"fobia" que lésbicas e gays podem sofrer. "É mais uma questão de
marginalização, porque as pessoas não entendem a assexualidade." "A
revolução sexual mudou muito a forma como lidamos com o sexo e como pensamos
nisso como sociedade. Algumas pesquisas me dão uma sensação de que há um grau
de sexualização excessiva na sociedade, as pessoas simplesmente não entendem a
assexualidade", diz Carrigan.
Segundo a especialista em relacionamentos e sexualidade Pam
Spurr, as pessoas conseguem falar sobre baixa ou alta libido, mas a
assexualidade não é um assunto muito discutido abertamente. Carrigan acha que
uma comunidade assexuada mais visível pode ter um efeito nas pessoas que não
são assexuadas. "Não havia um conceito de heterossexualidade até haver
homossexuais. Foi só quando algumas pessoas passaram a se definir como
homossexuais que passou a fazer sentido para outras pessoas pensar em si mesmas
como heterossexuais", explica Carrigan. "Se é verdade que até 1% da
população é assexuada e mais pessoas vão saber que eles existem, será que isso
vai mudar a maneira como pessoas 'sexuais' se veem? Porque não há hoje uma boa
palavra para definir pessoas que não são assexuadas."
Portal Terra